quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Não Faça Cerimônia.

No quarto de hotel, Joana avisa:
­-Quase descuido em me casar com você.

-Como assim?

Explica:

-Coisas da vida. Ainda bem que deu tempo de desistir; Graças a Deus sai correndo daquela igreja.

João estava eufórico, sem palavras, e ainda vestido com o fraque de noivo.

-Como assim? Você é louca? Deixou todos os convidados, nossas famílias e os nossos sonhos naquela igreja.

A moça não pensou duas vezes em tirar o vestido de noiva e trocar por um conjunto de calça jeans e blusa branca.

-Não sei o que me deu, só sei que preferi não me casar. E só mais uma coisa, João, você me faz um favor?

O noivo sem esboçar nem uma reação respondeu.

-O que mais você quer?

-Diz a tua mãe que ela é uma vaca.

Joana pegou a bolsa na qual tinha guardado o vestido e uma garrafa de espumante, saiu pela porta do quarto, e disse:

-Amar a vida não é traição. Me desculpe.

Bateu a porta e nunca mais voltou.

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-Ela sempre foi assim Lurdinha. Nunca foi uma pessoa muito normal.

Foi com essa frase que Manoela, irmã de Joana, começou o dia ao telefone.

-Ninguém sabe ao certo o que ela está fazendo. Parece que está viajando por todo o Brasil com uma amiga; Minha mãe já está até desconfiada que ela tem um caso com essa fulana.

-Eu não acredito amiga.

-Fazer o que amiga? Quem perdeu foi ela, que deixou de casar com o João. Eu mesma não sei o que faria sem ele, um pai tão dedicado para os nossos filhos, um homem tão amoroso.

Como já era de se esperar, a moça, amiga de Manoela, explodindo da curiosidade que é tão comum as mulheres, completou com cautela:

-Que sorte a sua Manuzinha. Mas me diga uma coisa, ele ainda está com aqueles probleminhas?
-Olha amiga, quando ele bebe, ainda fica um pouco agressivo; Mas dês daquela ultima vez que ele foi detido, nunca mais me bateu, e isso já fazem 3 dias.

-Que bom amiga, as coisas vão melhorar.

Manuela obstruiu o telefone e inclinou-se pela janela para ouvir melhor o ruído que vinha da rua.

-Amiga?

-Oi Manu.

-Vou ter que desligar o telefone agora; ouvi o carro do João chegando e pelo jeito que ele estacionou, deve ter bebido muito hoje. É melhor eu ir me trancar no quarto e fingir que estou dormindo.

-Tudo bem manu, vai lá amiga, e me manda mais notícias da sua irmã, aquela maluca.

-Mando sim menina, mas não se preocupe, ela não está nem um pouco bem; Uma mulher que não se casa e não tem filhos? É impossível uma mulher ser feliz assim.

Manuela desligou o telefone e correu para o quarto. Fechou os olhos e rezou para não sofrer naquela noite.rezou pelo marido e pela sua irmã, joana, que por ser maluca e amar a vida, infelizmente não teve a mesma sorte que Manuela, a mulher mais realizada do mundo. O que mais poderia querer uma mulher?

Pobre Manuela.

2 comentários:

Anônimo disse...

" Escuto as pessoas. O problema de cada um, da um grande problema."
-P.

Clarissa Maria disse...

O mais interessante é que isso está estampado no sistema machista em que vivemos, e como dá pra ver na crônica... é tido como normal. Um nojo. Estamos hoje vivendo um dualismo, dos dois lados temos mulheres que não se respeitam, umas conservadoras e sujeitas a esse tipo de vida, outras abertas a tudo demasiadamente. E é claro que esses dois pontos são originados de um ambiente familiar, geralmente exaltando o homem como modelo de perfeição, e no ambiente social, que desconsidera esse último, em várias percepções. É claro que isso vai da ética de cada um, apesar da moral que a sociedade nos impõe, interferir de uma maneira absurda. E daí vem fulaninho me dizer: Estamos numa sociedade livre..
Livre onde? -Eu me pergunto.