Lucas sempre cultivou o sonho de ser pai. Aqueles pensamentos vagos sobre ir ao parque e perder o tempo de vista, ganhar o dia com brinquedos e algodão doce ou supervalorizar um desenho sem graça.
Aconteceu que um dia Lucas encontrou a mãe dos seus filhos.
Lurdes, ou simplesmente Lurdinha, era aquele tipo de mulher simples e sem brilho, dona duma falta de graça irremediável, e que viera ao mundo apenas para cumprir o ordenado:
Ser a esposa de alguém.
De uma maneira ou de outra, porém, o fato era o seguinte: de tanto amor que sofria por Lurdinha, o rapaz se fez em coragem e resolveu pedir a moça em namoro; Assim mesmo, sem motivo ou razão aparente. Como que o destino se encarregasse de juntar o que foi feito para ser um só.Aconteceu que um dia Lucas encontrou a mãe dos seus filhos.
Lurdes, ou simplesmente Lurdinha, era aquele tipo de mulher simples e sem brilho, dona duma falta de graça irremediável, e que viera ao mundo apenas para cumprir o ordenado:
Ser a esposa de alguém.
Fina e frágil como tem que ser, a moça que tinha no olhar a inocência de um batalhão de moças apaixonadas, não decepcionou, e de coração aberto aceitou o pedido do rapaz. Fazendo apenas um único pedido:
- Tu tens que falar com o meu pai antes.
Ele, moço corajoso e namorador inveterado, logo retrucou:
-Então estamos perdendo tempo parados aqui.
A casa de Lurdinha era simples e de invejável serenidade. Fato. Era uma daquelas casas tradicionais com cadeiras de balanço no terraço e um cachorro de pelos dourados a tiracolo.
-Linda a sua casa Lurdinha. Quero que um dia a nossa futura casa seja assim também.
A moça sorriu um pouco, Respirou fundo e abriu a porta de casa.
-Papai? Papai?
-Oi filha.
-O senhor pode vir na sala, eu tenho alguém aqui que gostaria de apresentar ao senhor.
Um homem simpático, de cabelos grisalhos e camisa surrada apareceu diante do casal. Lucas que nunca tivera feito coisa semelhante antes, experimentou pela primeira vez um arrepio na pele e na alma. Estava conhecendo o seu sogro.
A conversa foi breve. Logo que o rapaz informou das suas reais intenções em namorar e casar com Lurdinha, o amável papai da moça concordou em aberto com grande emoção no olhar. Tudo perfeito, mas a única coisa que realmente frustrou Lucas foi o fato de que não conheceu a sua futura sogra, pois, como se tratava de um casal divorciado, nada mais tinham um com a vida do outro. “Besteira” pensou Lucas, pois era um daqueles jovens que não gostava muito de perder tempo.
A esposa de Lucas.
Durante quase toda a festa de casamento o noivo cumprimentou centenas de pessoas; algumas conhecidas, outras nem tanto. Aquele sorriso estático, um aperto de mão com exatos 3 segundos de duração e uma palavra na ponta da língua “muito obrigado por ter vindo”.
-Lurdinha, você não disse que a sua mãe viria?
-Ela vem. Daqui a pouco ela aparece por aqui. Minha mãe não perderia uma festa por nada nesse mundo.
A mãe de Lurdinha, Dona Lúcia, Viajou durante horas e mais horas para ver o sonho da filha se realizando, e claro, junto com ela vieram todos os membros da família.
-Lurdinha, eu não agüento mais esperar, vamos para o nosso hotel, ficamos um pouco lá e depois voltamos para o final da festa.
Lurdinha com um olhar nunca visto antes, de malícia, e com um sorrido de canto de boca assentiu:
- Então estamos perdendo tempo parados aqui.
A porta do quarto se chocou contra a parede. Pareciam loucos viciados na carne do outro. Lurdinha abriu uma garrafa de vinho e despejou meia garrafa do líquido em sua boca.
-Lurdinha, eu acho que você já bebeu de mais na festa.
-Cala a boca seu animal, eu faço o que eu quiser.
Lucas parou, ficou arquejante. Durante alguns momentos não falou nada. Deixou Lurdinha no quarto e por um momento foi até a recepção fazer uma ligação.
-Alô, mãe?
-Oi filho.
-A senhora ainda está na festa?
-Estou sim. Estranho você ter me ligado filho. Eu já ia ter ligar daqui a pouco.
-A senhora pode me informar se a mãe da Lurdinha já chegou?
-Já sim querido, e era sobre isso que eu queria falar com você. Queria falar sobre a mãe da sua esposa e a família dela.
-O que tem eles mãe?
-Chegaram a menos de uma hora, mas a sua sogra e a família dela já beberam todas as bebidas que tínhamos, trouxeram bolsas e mochilas para roubar comida e talheres. E o pior de tudo não é isso. Os irmãos da sua sogra brigaram com os seus tios, e agora o seu pai está na delegacia resolvendo o problema. E como se não bastasse, o pai da Lurdinha está de quatro na mesa, gritando.
Lucas permaneceu mudo ao telefone.
-Filho, me diz uma coisa. Por favor, me diga que você escutou o meu conselho sobre conhecer a família da noiva antes de se casar?
-Filho?
-Lucas?
-Você está ai?
O rapaz largou o telefone, que se chocou violentamente contra o balcão da recepção. Dirigiu-se até o quarto. Abriu a porta e ficou ali parado. Pensando. Olhando Lurdinha deitada e dormindo com um cigarro na mão e uma garrafa de vinho que escorria manchando os lençóis. Lucas ficou imóvel. Só conseguia pensar em uma frase:
“Então estamos perdendo tempo parados aqui”
Mas sentia como uma pancada na cabeça, Como que uma voz fizesse todo o sentido do mundo. Uma voz que ele não conseguia parar de escutar.
-Filho, você escutou o meu conselho?
-Filho?
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