quinta-feira, 10 de março de 2016

Racnela.

Levi era o dono da bola, e as outras crianças pareceriam não gostar muito disso; porque no campinho de barro, tinha toda aquela questão da irmandade.

Era o milagre da lama que unia o corpo, e a alegria do gol que lavava a alma.

A bola de Levi era uma daquelas questões que não pertenciam ao mundo da lama.
Era a vaidade que se destacava no barro;
Linda; única e oficial da Copa. Um sonho para os pés.

Por isso foi tão confuso para todas as crianças; um objeto que serve para ser chutado e surrado, não poderia ser tão lindo.
Não parecia certo, e Levi sabia muito bem disso.

O desejo é perigoso.

Mas agora já era tarde de mais.
A bola estava em jogo, e o problema também.

O peso da irmandade foi logo perdendo lugar para o desejo.

O objeto de Levi, inspirava o respeito pela mais bela,não pelo grupo; E quando isso acontece, as coisas costumam acabar mal.

Nada disso sairia barato para Levi.
Era tarde de mais para salvar a infância.
Dava para sentir o cheiro no ar.

Então o jogo acabou.

O jogo sempre acaba quando todos querem ser atacantes,
fazer o gol e ganhar a medalha de ouro; do outro.
O jogo acaba quando Competir deixa de ser a meta.

"A vida é uma selva" Virou o bordão preferido entre os adultos.
E foi com essa frase que a poeira levantou pela ultima vez.

A partir daquele dia, a vida virou uma selva e o jogo acabou.

"Eu cresci"

É uma pena Levi.