quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Flap.

Parte 2.


II


O sol já havia despertado do seu sono a mais ou menos 8 horas, e a luz do dia já brilhava em todo o quarto de Renata.

-Renata, já está na hora de acordar- Uma voz feminina ecoou, saindo de dentro da casa para o quarto da garota, que ainda um pouco tonta de sono despertava dos seus sonhos. Pressionou as mãos contra o rosto e esfregou os olhos.

-Já vou mãe- Gritou Renata com todo o ar que conseguiu guardar em seus pulmões. Saiu da cama em um pulo, e caiu com o pé esquerdo como de costume. Ela não era supersticiosa ou tinha crenças de sorte ou azar, gostava apenas de perder o equilíbrio de manhã quando saia da cama.

A menina já tinha despertado do seu sono. Prontamente tomou banho, Colocou a farda da escola e caminhou em direção a cozinha da casa; Mas alguma coisa impediu que a garota saísse do quarto.

-Quem falou isso? Perguntou Renata.

- Alguma coisa impediu que a garota saísse do quarto. Renata perguntou, ‘ Quem falou isso’, e permaneceu aguardando a resposta durante algum tempo- Uma voz que saia de dentro do quarto estava estranhamente narrando o que a menina fazia.

-Quem é que está falando essas coisas? Novamente a menina perguntou para o quarto.

-Novamente a menina pergunta e não obtém resposta alguma- Aquela voz grave continuava a narrar tudo o que a garota estava fazendo, como se fosse um daqueles filmes baratos que Renata costumava assistir na TV.

-Olha aqui, eu não sei quem é você, ou porque está fazendo essa graçinha, mas quero logo dizer que não estou gostando nada disso- Ela estava de braços cruzados, olhar fixo, e batendo o pé no chão com impaciência.

-Você não está gostando?- então a voz que antes narrava tudo começou a chorar. – Você não está gostando! Eu sei, eu sei, eu não sou bom mesmo, nunca vou ser um bom escritor- E continuou a chorar.

-Calma, calma, não chore, não foi isso que eu quis dizer- A menina agora estava mais assustava do que antes. De quem poderia ser aquela voz estranha?

-Então ela pede para que a voz pare de chorar e diz que está adorando a narração- A voz volta a ecoar pelo quarto.

-Olhe só, eu também não quis dizer que estou adorando nada, e se você for continuar com isso eu vou embora.

-Não, não, me desculpe- A voz voltou ao seu pranto inicial. – Me desculpe Renata, é que eu não sei mais o que fazer.

-Como assim você sabe o meu nome? Olha, vamos fazer o seguinte. Primeiro você me diz quem é você, e depois eu vejo se posso te ajudar. Combinado assim?

-Tudo bem, então vamos fazer do seu jeito senhorita.

Sendo assim:

- Veja, Eu estou bem aqui, está me vendo?. Aqui, bem na mesa onde ficam os seus livros, do lado direito da pilha de papeis de carta; está me vendo?

-Estou sim senhor. Olá senhor calendário- Renata estava maravilhada com o fato de estar falando com o seu calendário, mas algo não estava bem com ele, ele chorava muito e parecia estar preocupado.

-Olá senhorita Renata, como está?. Saiba que é uma honra ter essa oportunidade. 

-Estou bem, mas pelo visto, me parece que não está nada bem com o senhor. Posso saber o que se passa? Talvez eu possa ajudá-lo em alguma coisa.

-A senhorita é muito gentil, mas creio que o meu problema não tenha solução.

-Ora senhor calendário, todos os problemas tem solução. Vamos começar assim, o senhor tem um nome? Tudo fica mais fácil com nomes.

-Vejamos, quando eu escrevo, gosto de assinar usando o nome Darck Pipoqueiro, acho que dá um peso maior sabe...  Darck Pipoqueiro, sente o drama?

- Darck Pipoqueiro?


-
É isso mesmo. Nome legal não é? Eu sabia que você iria adorar – O calendário que antes chorava, agora estava radiante.

-Você não tem um nome de verdade? Tipo: João, Pedro, Carlos?

-Na verdade tenho, mas eu não gosto muito do meu nome.

-Qual o seu nome verdadeiro senhor calendário?

- Está bem, está bem. Vou te dizer, mas fica em segredo, ouviu? Só entre nos dois.

Respirou fundo e disse:

-O meu nome é
Bom Filho Persegonha.

-
Tudo bem senhor Persegonha, qual o seu problema?

O calendário colocou-se a chorar novamente, chorou durante algum tempo e então falou:


-Já estou muito velho, a minha vida já está chegando ao fim e eu ainda não cumpri o meu dever.

-O senhor já viveu muito tempo? Mas só o tenho a menos de um ano!

-Sim, já vivi muito tempo senhorita. É que para nós, os calendários, a vida dura apenas um ano. Até que então, no ultimo dia do ano nós desaparecemos e viramos um lindo livro em alguma livraria; esse é o sonho de qualquer calendário, mas nem todos conseguem.

-Mas porque nem todos conseguem? Que história triste.

A menina fez uma pausa e continuou:

- E o que vocês têm que fazer para conseguir o que desejam?

-Para que nos tornemos livros, ficamos encarregados de oferecer uma prova. E essa prova de fogo é o que nos diz se poderemos ter, ou não, o direito de virar um livro. Essa prova é dada da seguinte forma: Cada calendário tem um dono, e esse dono faz parte de nossa vida durante toda a nossa existência enquanto calendários. Para eles, somos apenas um ano, mas para nós é uma vida inteira de alegrias; cada aniversário, cada feriado, cada dia especial, nos fazem cada vez mais ligados aos nossos donos. Pois bem, para que nos tornemos livros ao fim de nossa jornada, é preciso que cada calendário escreva alguma mensagem para o seu dono, uma coisa que seja só dele.

-Sério? Eu não sabia disso, posso ver alguma coisa que o senhor escreveu?

Lágrimas, lágrimas, lágrimas, o calendário voltou a chorar.

-Senhorita Renata, esse é justamente o problema... Eu não sou um bom escritor, nunca vou conseguir escrever, e hoje é o ultimo dia que tenho para entregar o escrito.

-É verdade, hoje é o seu ultimo dia - Disse a Renata com espanto. - já ia até comprar outro calendário amanhã.

-Foi o que eu disse Senhorita, eu tenho que terminar até hoje, e não sei o que fazer, acho que nunca vou conseguir me tornar um livro.

-Não diga isso Senhor Persegonha. O senhor pode me mostrar alguma coisa que escreveu durante a sua vida? Só ai poderemos saber se tem alguma coisa para melhorar.
-Como assim alguma coisa que escrevi?

-Hummm...Não sei bem senhor Persegonha, qualquer coisa, qualquer texto que o senhor já tenha escrito.

-Mas eu nunca escrevi nada na minha vida.

-Como assim nunca escreveu nada?. Se o senhor nunca escreveu, então como sabe que não é um bom escritor, ou pintor, cantor ou qualquer outra coisa que quiser ser – A menina falou olhando fixamente para o calendário, que meio sem jeito se apertava contra a parede.

-Eu nunca tentei escrever nada, porque tenho medo de descobrir que não sou bom com as palavras.

- Então me diga só uma coisa senhor chorão, e se você que não é um bom escritor? Garanto que isso não seria o fim do mundo.

Renata colocou as mãos para trás e com olhar clinico no rosto continuou a falar:

– Veja bem, eu garanto que existe uma coisa no mundo em que o senhor é o melhor do mundo em fazer.

-Como assim?

-Vejamos; Eu sou a melhor pessoa do mundo em identificar coisas impares e pares, e eu tenho um amigo que é a melhor pessoa do mundo em andar com a camisa melada de molho. Você só vai descobrir em que você é o melhor, no dia em que tentar alguma coisa.

Renata se aproximou do calendário e concluiu:

-Acho que já fiz tudo o que poderia ter feito pelo senhor. Agora eu já estou atrasada e infelizmente tenho que sair.

Levantou-se, e com um brilho no olhar se despediu:

-boa sorte com a sua tentativa... Eu sei que o senhor vai conseguir.

E foi com essas palavras que Renata se despediu do senhor Persegonha e saiu correndo pela porta do quarto.


III

Renata voltou da escola e entrou correndo pela porta de casa, e fazer contornos foi rapidamente em direção a pilha de livros do Senhor calendário.

-Senhor 
Persegonha, Cadê você? – A menina não havia encontrado o calendário em lugar algum. Ele tinha sumido.

-Senhor Persegonha? – Renata chamava e falava, perguntava e procurava, mas não recebia nem uma resposta. Parece que o calendário tinha realmente partido de vez.

Porém alguma coisa chamou a atenção da garota. Renata observou com mais cuidado e pode notar que ao lado de onde se encontrava o calendário, agora repousava um papel que ela nunca tinha visto antes.

-Será que ele virou uma folha de papel? Pobre Senhor Persegonha.

Renata abriu a folha que encontrou ao lado dos livros e permaneceu imóvel.


Quem te mantém sorrindo sabe que teu sorriso é lindo e merece existir.
Ela que sabe exatamente em qual olhar se encontra a resposta sem mais um por que.
prefere do todo à dúvida.
E quando não resta mais nada.
A dúvida cria as respostas que ela precisa e aos poucos toma o lugar do vazio.
Deixando de usar da solidão para ensinar sobre a convivência.
Porque é o teu sorriso que me faz feliz. ’

. Eu sou o melhor do mundo em escrever para você.

Ass:
Darck Pipoqueiro.


A menina sorriu um pouco imaginando em que tipo de livro O seu calendário teria se tornado. Guardou a folha em um caderno. Deitou em sua cama e dormiu.