Parte 1.
Renata apanhou uma revista que estava jogada sob a mesa e dirigiu-se até o jardim da casa. Dobrou a revista em forma de funil e a Colocou próxima ao ouvido. Se curvou inclinando-se no sentido do jardim e em silêncio permaneceu durante alguns segundos.
Duas rosas conversavam enquanto Renata se esforçava para ouvir, tomando o maior cuidado para não chamar a atenção para si.
“Você está completamente errado”- Disse a rosa mais irritada, que inclinando-se para baixo retirou uma pequena pedra que atrapalhava o seu caminho.
A rosa falou ‘Errado’? Deveria ter falado ‘errada’ já que as rosas não são meninos. Pensou Renata.
-Claro que não estou errado Sebastião! Caso o amor acabe, vai ser muito
melhor que aquele que não ama mais, finja que ainda ama.
-E o outro que ainda ama de verdade, vai saber que está sendo enganado?- falou Sebastião que agora estava mais irritado do que nunca.
-Claro que vai saber. Os dois irão saber! Mas vão aceitar isso sem problemas, porque não tem nada pior do que não ter alguém para amar- Foi com certo ar de autoridade que Tortopracima completou a sua teoria sobre o amor. Totalmente convicto de suas verdades.
-Veja bem Tortopracima, como já te falei milhares de vezes, minha origem descende de uma das mais tradicionais e requisitadas famílias de rosas do mundo, somos famosos por integrar os mais lindos buquês de dia dos namorados,casamentos e até aniversários desse século.
- E daí? Em que isso prova que estou errado?
- E daí que eu tenho muito mais propriedade para falar sobre o assunto do que você.
Sebastião já estava arrancando as pétalas de tão nervoso. E por isso continuou:
– A verdade é que, é muito melhor não saber que a outra pessoa não te ama mais, é melhor continuar achando que o amor ainda existe. Não tem nada pior do que não ser amado.
-Porque vocês estão tão nervosos? – Renata não agüentou mais tanta confusão e resolveu interferir.
-Quem é você?- Perguntou Sebastião assustado com aquela figura humana que interrompia a discussão.
-Oi, eu moro bem ali naquela casa azul, sou vizinha de vocês... Na verdade vocês moram no meu quintal.
As rosas se entreolharam espantadas.
-Nos estávamos discutindo um assunto muito importante e você nos atrapalhou- Respondeu Tortopracima enquanto tomava a frente de Sebastião, pois a pobre rosa estava morrendo de medo.
-Ho! Desculpem-me a falta de educação, não era a minha intenção atrapalhar nada.
- Pronto! Desculpada! agora você já pode voltar para o lugar de onde veio; Adeus – Tortopracima falou e virou de costas para a garota curiosa.
-Muito obrigada por me desculpar...Mas sobre o que vocês estavam falando mesmo?
-Olha garotinha, primeira coisa, você é muito curiosa e o assunto que estamos falando é muito complicado para você- Dessa vez foi Sebastião quem falou, ele já estava nervoso antes da chegada da garota e isso só o fez a sua bravura irritada aumentar.
-Deve ser complicado mesmo, pelo que eu pude ouvir até agora vocês tem muitos argumentos sobre o assunto não é? Já faz muito tempo que estão discutindo isso?
-Olhe só, vou te responder isso e você vai embora logo depois, temos mais o que fazer do que ficar respondendo as suas perguntas- Tortopracima respirou fundo e deu início a sua explicação.
-Bem, faz um bom tempo sim- Tortopracima ficou pensando um pouco; como que calculado o tempo da discussão. –Para falar a verdade, eu fui plantado aqui há algum tempo. Logo no início eu era muito pequeno e ainda não podia enxergar. No dia em que eu comecei a enxergar e ver o mundo, a primeira coisa que eu vi foi o Sebastião.
- Comigo também foi assim. Confessou Sebastião agora mais calmo.
-Então quer dizer que vocês só conhecem um a o outro e nunca saíram daqui? falou Renata com um olhar de quem não estava entendendo muito bem.
-Isso mesmo- Responderam os dois ao mesmo tempo.
-E toda essa discussão? – continuou a garota.
“veja só, antes de começarmos a enxergar, nos já podíamos escutar tudo o que acontecia ao nosso redor, então um belo dia ouvimos umas vozes falando sobre o amor; acho que eram duas pessoas que tinham que se afastar uma da outra ou algum motivo. Ouvimos pouca coisa, mas como não conseguíamos ver e nem sentir, escutamos tudo e criamos nossos próprios conceitos sobre o que seria esse tal de amor. E aos poucos, ouvindo uma coisa aqui e outra ali criamos nossas opiniões”. - Falou Sebastião com todo orgulho estampado nas pétalas.
“Um belo dia começamos a enxergar e ai quando vi que tinha alguém do meu lado comecei a discutir o assunto na mesma hora, e desde então estamos discutindo” Completou Tortopracima, com um sorrisinho de canto de boca.
-Vocês nunca saíram do mundinho de vocês, só conhecem um ao outro e mesmo assim vivem brigando! Como podem saber o que é o amor se nunca viveram ele? Vocês discutem isso desde que começaram a viver, perderam tanto tempo discutindo que se esqueceram viver - A garota estava espantada com tudo aquilo.
-Eu disse para ela Sebastião, esse assunto é muito complicado para uma garotinha-
E então voltaram a discutir.
domingo, 16 de outubro de 2011
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
A namorada de Lucas.
Lucas sempre cultivou o sonho de ser pai. Aqueles pensamentos vagos sobre ir ao parque e perder o tempo de vista, ganhar o dia com brinquedos e algodão doce ou supervalorizar um desenho sem graça.
Aconteceu que um dia Lucas encontrou a mãe dos seus filhos.
Lurdes, ou simplesmente Lurdinha, era aquele tipo de mulher simples e sem brilho, dona duma falta de graça irremediável, e que viera ao mundo apenas para cumprir o ordenado:
Ser a esposa de alguém.
De uma maneira ou de outra, porém, o fato era o seguinte: de tanto amor que sofria por Lurdinha, o rapaz se fez em coragem e resolveu pedir a moça em namoro; Assim mesmo, sem motivo ou razão aparente. Como que o destino se encarregasse de juntar o que foi feito para ser um só.Aconteceu que um dia Lucas encontrou a mãe dos seus filhos.
Lurdes, ou simplesmente Lurdinha, era aquele tipo de mulher simples e sem brilho, dona duma falta de graça irremediável, e que viera ao mundo apenas para cumprir o ordenado:
Ser a esposa de alguém.
Fina e frágil como tem que ser, a moça que tinha no olhar a inocência de um batalhão de moças apaixonadas, não decepcionou, e de coração aberto aceitou o pedido do rapaz. Fazendo apenas um único pedido:
- Tu tens que falar com o meu pai antes.
Ele, moço corajoso e namorador inveterado, logo retrucou:
-Então estamos perdendo tempo parados aqui.
A casa de Lurdinha era simples e de invejável serenidade. Fato. Era uma daquelas casas tradicionais com cadeiras de balanço no terraço e um cachorro de pelos dourados a tiracolo.
-Linda a sua casa Lurdinha. Quero que um dia a nossa futura casa seja assim também.
A moça sorriu um pouco, Respirou fundo e abriu a porta de casa.
-Papai? Papai?
-Oi filha.
-O senhor pode vir na sala, eu tenho alguém aqui que gostaria de apresentar ao senhor.
Um homem simpático, de cabelos grisalhos e camisa surrada apareceu diante do casal. Lucas que nunca tivera feito coisa semelhante antes, experimentou pela primeira vez um arrepio na pele e na alma. Estava conhecendo o seu sogro.
A conversa foi breve. Logo que o rapaz informou das suas reais intenções em namorar e casar com Lurdinha, o amável papai da moça concordou em aberto com grande emoção no olhar. Tudo perfeito, mas a única coisa que realmente frustrou Lucas foi o fato de que não conheceu a sua futura sogra, pois, como se tratava de um casal divorciado, nada mais tinham um com a vida do outro. “Besteira” pensou Lucas, pois era um daqueles jovens que não gostava muito de perder tempo.
A esposa de Lucas.
Durante quase toda a festa de casamento o noivo cumprimentou centenas de pessoas; algumas conhecidas, outras nem tanto. Aquele sorriso estático, um aperto de mão com exatos 3 segundos de duração e uma palavra na ponta da língua “muito obrigado por ter vindo”.
-Lurdinha, você não disse que a sua mãe viria?
-Ela vem. Daqui a pouco ela aparece por aqui. Minha mãe não perderia uma festa por nada nesse mundo.
A mãe de Lurdinha, Dona Lúcia, Viajou durante horas e mais horas para ver o sonho da filha se realizando, e claro, junto com ela vieram todos os membros da família.
-Lurdinha, eu não agüento mais esperar, vamos para o nosso hotel, ficamos um pouco lá e depois voltamos para o final da festa.
Lurdinha com um olhar nunca visto antes, de malícia, e com um sorrido de canto de boca assentiu:
- Então estamos perdendo tempo parados aqui.
A porta do quarto se chocou contra a parede. Pareciam loucos viciados na carne do outro. Lurdinha abriu uma garrafa de vinho e despejou meia garrafa do líquido em sua boca.
-Lurdinha, eu acho que você já bebeu de mais na festa.
-Cala a boca seu animal, eu faço o que eu quiser.
Lucas parou, ficou arquejante. Durante alguns momentos não falou nada. Deixou Lurdinha no quarto e por um momento foi até a recepção fazer uma ligação.
-Alô, mãe?
-Oi filho.
-A senhora ainda está na festa?
-Estou sim. Estranho você ter me ligado filho. Eu já ia ter ligar daqui a pouco.
-A senhora pode me informar se a mãe da Lurdinha já chegou?
-Já sim querido, e era sobre isso que eu queria falar com você. Queria falar sobre a mãe da sua esposa e a família dela.
-O que tem eles mãe?
-Chegaram a menos de uma hora, mas a sua sogra e a família dela já beberam todas as bebidas que tínhamos, trouxeram bolsas e mochilas para roubar comida e talheres. E o pior de tudo não é isso. Os irmãos da sua sogra brigaram com os seus tios, e agora o seu pai está na delegacia resolvendo o problema. E como se não bastasse, o pai da Lurdinha está de quatro na mesa, gritando.
Lucas permaneceu mudo ao telefone.
-Filho, me diz uma coisa. Por favor, me diga que você escutou o meu conselho sobre conhecer a família da noiva antes de se casar?
-Filho?
-Lucas?
-Você está ai?
O rapaz largou o telefone, que se chocou violentamente contra o balcão da recepção. Dirigiu-se até o quarto. Abriu a porta e ficou ali parado. Pensando. Olhando Lurdinha deitada e dormindo com um cigarro na mão e uma garrafa de vinho que escorria manchando os lençóis. Lucas ficou imóvel. Só conseguia pensar em uma frase:
“Então estamos perdendo tempo parados aqui”
Mas sentia como uma pancada na cabeça, Como que uma voz fizesse todo o sentido do mundo. Uma voz que ele não conseguia parar de escutar.
-Filho, você escutou o meu conselho?
-Filho?
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Não Faça Cerimônia.
No quarto de hotel, Joana avisa:
-Quase descuido em me casar com você.
-Como assim?
Explica:
-Coisas da vida. Ainda bem que deu tempo de desistir; Graças a Deus sai correndo daquela igreja.
João estava eufórico, sem palavras, e ainda vestido com o fraque de noivo.
-Como assim? Você é louca? Deixou todos os convidados, nossas famílias e os nossos sonhos naquela igreja.
A moça não pensou duas vezes em tirar o vestido de noiva e trocar por um conjunto de calça jeans e blusa branca.
-Não sei o que me deu, só sei que preferi não me casar. E só mais uma coisa, João, você me faz um favor?
O noivo sem esboçar nem uma reação respondeu.
-O que mais você quer?
-Diz a tua mãe que ela é uma vaca.
Joana pegou a bolsa na qual tinha guardado o vestido e uma garrafa de espumante, saiu pela porta do quarto, e disse:
-Amar a vida não é traição. Me desculpe.
Bateu a porta e nunca mais voltou.
______________________________________________
-Ela sempre foi assim Lurdinha. Nunca foi uma pessoa muito normal.
Foi com essa frase que Manoela, irmã de Joana, começou o dia ao telefone.
-Ninguém sabe ao certo o que ela está fazendo. Parece que está viajando por todo o Brasil com uma amiga; Minha mãe já está até desconfiada que ela tem um caso com essa fulana.
-Eu não acredito amiga.
-Fazer o que amiga? Quem perdeu foi ela, que deixou de casar com o João. Eu mesma não sei o que faria sem ele, um pai tão dedicado para os nossos filhos, um homem tão amoroso.
Como já era de se esperar, a moça, amiga de Manoela, explodindo da curiosidade que é tão comum as mulheres, completou com cautela:
-Que sorte a sua Manuzinha. Mas me diga uma coisa, ele ainda está com aqueles probleminhas?
-Como assim?
Explica:
-Coisas da vida. Ainda bem que deu tempo de desistir; Graças a Deus sai correndo daquela igreja.
João estava eufórico, sem palavras, e ainda vestido com o fraque de noivo.
-Como assim? Você é louca? Deixou todos os convidados, nossas famílias e os nossos sonhos naquela igreja.
A moça não pensou duas vezes em tirar o vestido de noiva e trocar por um conjunto de calça jeans e blusa branca.
-Não sei o que me deu, só sei que preferi não me casar. E só mais uma coisa, João, você me faz um favor?
O noivo sem esboçar nem uma reação respondeu.
-O que mais você quer?
-Diz a tua mãe que ela é uma vaca.
Joana pegou a bolsa na qual tinha guardado o vestido e uma garrafa de espumante, saiu pela porta do quarto, e disse:
-Amar a vida não é traição. Me desculpe.
Bateu a porta e nunca mais voltou.
______________________________________________
-Ela sempre foi assim Lurdinha. Nunca foi uma pessoa muito normal.
Foi com essa frase que Manoela, irmã de Joana, começou o dia ao telefone.
-Ninguém sabe ao certo o que ela está fazendo. Parece que está viajando por todo o Brasil com uma amiga; Minha mãe já está até desconfiada que ela tem um caso com essa fulana.
-Eu não acredito amiga.
-Fazer o que amiga? Quem perdeu foi ela, que deixou de casar com o João. Eu mesma não sei o que faria sem ele, um pai tão dedicado para os nossos filhos, um homem tão amoroso.
Como já era de se esperar, a moça, amiga de Manoela, explodindo da curiosidade que é tão comum as mulheres, completou com cautela:
-Que sorte a sua Manuzinha. Mas me diga uma coisa, ele ainda está com aqueles probleminhas?
-Olha amiga, quando ele bebe, ainda fica um pouco agressivo; Mas dês daquela ultima vez que ele foi detido, nunca mais me bateu, e isso já fazem 3 dias.
-Que bom amiga, as coisas vão melhorar.
Manuela obstruiu o telefone e inclinou-se pela janela para ouvir melhor o ruído que vinha da rua.
-Amiga?
-Oi Manu.
-Vou ter que desligar o telefone agora; ouvi o carro do João chegando e pelo jeito que ele estacionou, deve ter bebido muito hoje. É melhor eu ir me trancar no quarto e fingir que estou dormindo.
-Tudo bem manu, vai lá amiga, e me manda mais notícias da sua irmã, aquela maluca.
-Mando sim menina, mas não se preocupe, ela não está nem um pouco bem; Uma mulher que não se casa e não tem filhos? É impossível uma mulher ser feliz assim.
Manuela desligou o telefone e correu para o quarto. Fechou os olhos e rezou para não sofrer naquela noite.rezou pelo marido e pela sua irmã, joana, que por ser maluca e amar a vida, infelizmente não teve a mesma sorte que Manuela, a mulher mais realizada do mundo. O que mais poderia querer uma mulher?
Pobre Manuela.
-Que bom amiga, as coisas vão melhorar.
Manuela obstruiu o telefone e inclinou-se pela janela para ouvir melhor o ruído que vinha da rua.
-Amiga?
-Oi Manu.
-Vou ter que desligar o telefone agora; ouvi o carro do João chegando e pelo jeito que ele estacionou, deve ter bebido muito hoje. É melhor eu ir me trancar no quarto e fingir que estou dormindo.
-Tudo bem manu, vai lá amiga, e me manda mais notícias da sua irmã, aquela maluca.
-Mando sim menina, mas não se preocupe, ela não está nem um pouco bem; Uma mulher que não se casa e não tem filhos? É impossível uma mulher ser feliz assim.
Manuela desligou o telefone e correu para o quarto. Fechou os olhos e rezou para não sofrer naquela noite.rezou pelo marido e pela sua irmã, joana, que por ser maluca e amar a vida, infelizmente não teve a mesma sorte que Manuela, a mulher mais realizada do mundo. O que mais poderia querer uma mulher?
Pobre Manuela.
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