Hoje de manhã me locomovi até um órgão da previdência social. Chegando lá, fui submetido a uma gigantesca carga de mau atendimento e indiferença por parte dos atendentes. Esse fato, nem um pouco isolado, me remeteu a um dos muitos porém necessários princípios do Direito Administrativo: o princípio da eficiência. Que nas palavras do jurista Alexandre de Moraes se define como: “o que impõe à administração pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, rimando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitarem-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade social." Sendo o caso, passei a me questionar sobre o que levaria aqueles profissionais concursados, status tão perseguido em nosso país, a levar o seu trabalho com tanto pesar, e por consequência, acabar refletindo no contribuinte um serviço que não está à altura da carga tributária despejada todos os anos na população brasileira.
Para que eu possa entender melhor o motivo do mau atendimento, antes se faz necessário entender o caminho percorrido por aquele cidadão até o momento em que se tornou funcionário público.
Veja bem.
A cada década o número de estudantes que concorrem a vagas nas mais diversas universidades Públicas do Brasil aumenta consideravelmente. Apesar de ser um Direito garantido pela constituição brasileira de 1988, o acesso a educação de qualidade para todos não está nem perto de ser um sonho possível. Por esse motivo, devido a ineficiência de um Estado soberano, incapaz de cumprir com as promessas elencadas em sua carta magna, nossa pátria amada acaba por selecionar para quais dos filhos deste solo ela será uma mãe gentil.
Com os níveis e a dificuldade das provas cada vez mais elevadas, aquela que deveria ser a oportunidade de ouro para os poucos concluintes do segundo grau nas redes públicas do Brasil, passou a ser o objetivo de vida, e principalmente de status, para os pais e estudantes das classes mais favorecidas do país.
O início.
Observando a quantidade de vagas limitadas nas universidades públicas e a incapacidade de resolver o problema em curto prazo, alguns empresários enxergaram nestas falhas uma oportunidade para garantir satisfação social e principalmente, uma oportunidade para ganhar muito dinheiro. Muito mesmo.
As escolas costumavam ser conhecidas como a segunda família da vida de uma criança. Local onde se aprendia a dividir, respeitar regras de convívio e a fazer amizades. Mas com o passar dos anos, essas escolas foram entrando em extinção e fechando suas portas. O maior segredo sobre esse fato, e o que ainda não ficou muito claro, é justamente o motivo pelo qual os pais, pessoas criadas e educadas em escolas preocupadas com a formação do indivíduo, acabaram por serem os maiores responsáveis pela extinção deste tipo de instituição. O fato é o seguinte:
Com o passar dos anos e com o crescimento do poder de compra da população, algumas escolas começaram a surgir, porém, era praticamente impossível competir com as já consagradas instituições de ensino, algumas muitas vezes já atuavam na área há centenas de anos. Sendo o caso, o diferencial veio quando os proprietários das pequenas escolas passaram a criar um novo método de ensino que deixava de lado o Raciocínio e a Criatividade das antigas escolas, para utilização do método:
Repetir e decorar.
Para garantir o sucesso do novo método de ensino, os proprietários das novas escolas começaram a se utilizar de campanhas de marketing dignas de uma revolução industrial.
O esquema é o seguinte:
Como já foi dito anteriormente, apesar da quantidade de vagas limitadas, ainda assim era possível alocar grande parte dos estudantes da classe “A” brasileira nos mais diversos cursos oferecidos pelas universidades em todo o país. Porém, devido à impossibilidade de limitar ainda mais o número de vagas por curso oferecido, as novas escolas passaram a se utilizar de um meio que iria garantir o mesmo efeito de uma possível limitação de vagas. A resposta veio, e era mais simples do que se imaginava. O objetivo era apenas aumentar o número de candidatos por vaga. Para isso seria necessário que os outros cursos passassem a ter cada vez menos candidatos e ficassem taxados como uma segunda alternativa para os menos favorecidos intelectualmente e cotistas. O plano teve seguimento com a criação da formula que ocasionou no sucesso das tais escolinhas: a supervalorização de alguns cursos, como Medicina, Direito e Engenharia. Mas não é tão simples assim, a supervalorização não aconteceu direcionada ao curso em si, isso porque, mais de 70% dos alunos das universidades públicas provêem de famílias cujos membros estão entre os 20% mais ricos da população, ou seja, podem arcar financeiramente com universidades particulares e realizar o sonho da graduação; o segredo nesta estratégia de marketing é o direcionamento da massa estudantil para o local onde menos se existe concentração de vagas por pessoa, e não por isso mais qualidade de ensino, objetivando assim, uma vitrine onde todos possuem o mesmo desejo em fazer parte de uma competição cada vez menos intelectual, para fazer parte de uma competição monetária, repleta de cursos, intercâmbios, matérias isoladas, professores particulares especializados, e claro, dinheiro, muito dinheiro.
Essa máquina perfeita de “realizar sonhos” acaba por falhar em alguns sentidos:
Um jovem de 14 anos está pronto para definir o seu próprio futuro?
O seu filho tem essa maturidade?
Quais os motivos que o fizeram escolher esse ou aquele curso?
Uma história de João Pedro:
Depois de submeter-se a um teste vocacional, que tendenciosamente aprontou para as Ciências Jurídicas, Pedrinho dedicou-se diariamente e participou de todos os cursinhos preparatórios a que teve acesso, como consequência, deixou de fazer todas as coisas de que mais gostava; estudou e fez provas em quase todos os finais de semana e abandonou de vez os seus livros e os desenhos manuais. O mais estranho é que ele não sabia bem o que cursar na Faculdade, ele só sabia que gostava muito de ler e escrever histórias, assim como o seu amigo Daniel, que gostava muito de Biologia e tinha dúvidas sobre qual curso iria tentar no vestibular. Estranhamente o teste vocacional de Daniel deu para Medicina; poderia ter dado para Biologia, Medicina veterinária ou oceanografia; mas não deu, assim como o teste de Pedrinho, que poderia ter apontado para os cursos de Letras, Jornalismo ou Filosofia.
Para que eu possa entender melhor o motivo do mau atendimento, antes se faz necessário entender o caminho percorrido por aquele cidadão até o momento em que se tornou funcionário público.
Veja bem.
A cada década o número de estudantes que concorrem a vagas nas mais diversas universidades Públicas do Brasil aumenta consideravelmente. Apesar de ser um Direito garantido pela constituição brasileira de 1988, o acesso a educação de qualidade para todos não está nem perto de ser um sonho possível. Por esse motivo, devido a ineficiência de um Estado soberano, incapaz de cumprir com as promessas elencadas em sua carta magna, nossa pátria amada acaba por selecionar para quais dos filhos deste solo ela será uma mãe gentil.
Com os níveis e a dificuldade das provas cada vez mais elevadas, aquela que deveria ser a oportunidade de ouro para os poucos concluintes do segundo grau nas redes públicas do Brasil, passou a ser o objetivo de vida, e principalmente de status, para os pais e estudantes das classes mais favorecidas do país.
O início.
Observando a quantidade de vagas limitadas nas universidades públicas e a incapacidade de resolver o problema em curto prazo, alguns empresários enxergaram nestas falhas uma oportunidade para garantir satisfação social e principalmente, uma oportunidade para ganhar muito dinheiro. Muito mesmo.
As escolas costumavam ser conhecidas como a segunda família da vida de uma criança. Local onde se aprendia a dividir, respeitar regras de convívio e a fazer amizades. Mas com o passar dos anos, essas escolas foram entrando em extinção e fechando suas portas. O maior segredo sobre esse fato, e o que ainda não ficou muito claro, é justamente o motivo pelo qual os pais, pessoas criadas e educadas em escolas preocupadas com a formação do indivíduo, acabaram por serem os maiores responsáveis pela extinção deste tipo de instituição. O fato é o seguinte:
Com o passar dos anos e com o crescimento do poder de compra da população, algumas escolas começaram a surgir, porém, era praticamente impossível competir com as já consagradas instituições de ensino, algumas muitas vezes já atuavam na área há centenas de anos. Sendo o caso, o diferencial veio quando os proprietários das pequenas escolas passaram a criar um novo método de ensino que deixava de lado o Raciocínio e a Criatividade das antigas escolas, para utilização do método:
Repetir e decorar.
Para garantir o sucesso do novo método de ensino, os proprietários das novas escolas começaram a se utilizar de campanhas de marketing dignas de uma revolução industrial.
O esquema é o seguinte:
Como já foi dito anteriormente, apesar da quantidade de vagas limitadas, ainda assim era possível alocar grande parte dos estudantes da classe “A” brasileira nos mais diversos cursos oferecidos pelas universidades em todo o país. Porém, devido à impossibilidade de limitar ainda mais o número de vagas por curso oferecido, as novas escolas passaram a se utilizar de um meio que iria garantir o mesmo efeito de uma possível limitação de vagas. A resposta veio, e era mais simples do que se imaginava. O objetivo era apenas aumentar o número de candidatos por vaga. Para isso seria necessário que os outros cursos passassem a ter cada vez menos candidatos e ficassem taxados como uma segunda alternativa para os menos favorecidos intelectualmente e cotistas. O plano teve seguimento com a criação da formula que ocasionou no sucesso das tais escolinhas: a supervalorização de alguns cursos, como Medicina, Direito e Engenharia. Mas não é tão simples assim, a supervalorização não aconteceu direcionada ao curso em si, isso porque, mais de 70% dos alunos das universidades públicas provêem de famílias cujos membros estão entre os 20% mais ricos da população, ou seja, podem arcar financeiramente com universidades particulares e realizar o sonho da graduação; o segredo nesta estratégia de marketing é o direcionamento da massa estudantil para o local onde menos se existe concentração de vagas por pessoa, e não por isso mais qualidade de ensino, objetivando assim, uma vitrine onde todos possuem o mesmo desejo em fazer parte de uma competição cada vez menos intelectual, para fazer parte de uma competição monetária, repleta de cursos, intercâmbios, matérias isoladas, professores particulares especializados, e claro, dinheiro, muito dinheiro.
Essa máquina perfeita de “realizar sonhos” acaba por falhar em alguns sentidos:
Um jovem de 14 anos está pronto para definir o seu próprio futuro?
O seu filho tem essa maturidade?
Quais os motivos que o fizeram escolher esse ou aquele curso?
Uma história de João Pedro:
Depois de submeter-se a um teste vocacional, que tendenciosamente aprontou para as Ciências Jurídicas, Pedrinho dedicou-se diariamente e participou de todos os cursinhos preparatórios a que teve acesso, como consequência, deixou de fazer todas as coisas de que mais gostava; estudou e fez provas em quase todos os finais de semana e abandonou de vez os seus livros e os desenhos manuais. O mais estranho é que ele não sabia bem o que cursar na Faculdade, ele só sabia que gostava muito de ler e escrever histórias, assim como o seu amigo Daniel, que gostava muito de Biologia e tinha dúvidas sobre qual curso iria tentar no vestibular. Estranhamente o teste vocacional de Daniel deu para Medicina; poderia ter dado para Biologia, Medicina veterinária ou oceanografia; mas não deu, assim como o teste de Pedrinho, que poderia ter apontado para os cursos de Letras, Jornalismo ou Filosofia.
João Pedro, primeiro lugar em Direito. É FEDERAL!
Para garantir a satisfação dos pais, que desembolsaram em média de R$1.800 por mês para arcar com os gastos educacionais do seu filho Pedrinho, como também, para explodir o ego da família e do próprio Pedrinho, as tais escolinhas passaram a fazer aquilo que há alguns anos atrás não passaria de uma grande piada de mau gosto; colocam fotos e o nome do rapaz em todos os outdoors da cidade. O quem nem todos sabem, é que a foto de Pedrinho vai garantir a matrícula de pelo menos 80% dos candidatos do curso de direito na tal escolinha, e o mais incrível de tudo isso, é que apesar de estar gerando lucro e status para a instituição, Pedrinho irá passar um ano inteiro aparecendo em placas e cadernos que serão adorados por milhares de estudantes em todo o país; Pedrinho será garoto propaganda da escolinha durante um ano inteiro, e não irá ganhar nada com isso, muito pelo contrário, pagou uma fortuna durante todos os anos que passou estudando para fazer um curso que não foi sua escolha. Mas isso não importa, para Pedrinho e sua família, o maior pagamento já foi feito.
Lá está Pedrinho, o centro da vitrine social.
O próximo passo.
Após anos dedicados ao sonho de passar em Direito, Pedrinho se vê com uma pequena dúvida:
-O que um advogado faz?
-Um juiz?
-Promotor?
-Quanto em média ganho sendo um profissional dessa área?
-O que eu estou fazendo aqui?
Depois de ter sido regurgitado por um sistema de ensino que estimulou durante anos, a repetição, a falta preocupação com o raciocínio, a total esterilidade da criatividade, e falta de senso crítico, Pedrinho mais uma vez se vê perdido sem ter um caminho para seguir.
“Nos colégios a preocupação é muitas vezes entulhar matéria na cabeça do aluno ao invés de ensiná-lo a se comunicar e a pensar”.
Willian Douglas.
O incrível é que muitas vezes o seu filho de 16 ou 17 anos tem que ser maturo de mais para lidar com a responsabilidade de definir o seu próprio futuro, mas por outro lado você o acha imaturo de mais para chegar de madrugada.
Chegando ao fim.
O mais incrível de tudo, é que eu nunca vi um outdoor tratando desse assunto:
“ Voltamos às faculdades três anos depois, para ver quais dos nossos “Feras” estão satisfeitos com os cursos que fazem, ou quais deles ainda não desistiram para ir atrás da sua verdadeira vocação profissional.”
Colocar a responsabilidade de uma vida e cobrá-la diariamente ao jovens, não é a fórmula correta para garantir o sucesso pessoal e profissional de uma classe. Em um país onde existem inúmeras áreas carentes de profissionais qualificados, é praticamente um crime ocupar o lugar de quem quer ser médico para alocar alguém que quer fazer medicina.
O resultado de limitar os sonhos das pessoas e delimitar onde elas poderão ter sucesso, ou não, é o que resulta na explosão de maus profissionais espalhados por todo o país, pessoas infelizes e frustradas com o que fazem. E como se não bastasse, essas pessoas serão duplicadoras do que sentem. E nesse caso, todos sentirão muito.
O fim.
A massificação de um sonho em comum, as promessas de estabilidade financeira vinculadas a alguns cursos universitários e até mesmo os queridos outdoors, fazem com que, qualquer um ao entrar em um curso de Direito possa fazer as seguintes perguntas e obter as seguintes respostas:
-O que pretendem os futuros operadores do direito?
R: Fazer concurso.
-Qual carreira pública vocês pretendem seguir?
R: Qualquer concurso que aparecer eu faço. No próximo mês terá um concurso para auxiliar administrativo.
-E o que faz um auxiliar administrativo?
R: Isso eu já não sei, mas sei responder de quanto é o salário.
Hoje de manhã me locomovi até um órgão da previdência social. Chegando lá, fui submetido a uma gigantesca carga de mau atendimento e indiferença por parte dos atendentes. Sendo o caso, passei a me questionar sobre o que levaria aqueles profissionais concursados, status tão perseguido em nosso país, a levar o seu trabalho com tanto pesar, e por conseqüência, acabar refletindo no contribuinte um serviço que não está à altura da carga tributária despejada todos os anos na população brasileira.
A culpa é sua.
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